quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Memórias

- Esse momento existe somente nas nossas memórias.
Ele disse para ela, que com os olhos disfarçando o choro ia saindo lentamente, quase que esperando um milagre puxa-la de volta. Desceu os seis lances de escada, não queria usar o elevador. Pra que acelerar aquela partida? Abriu a porta e deu de cara com a rua. Caminhou por ela como quem carrega um peso nas costas, quando na verdade o peso estava todo em seu coração. Olhou para o céu que ia ganhando suas primeiras estrelas, quando ecoou em sua mente: "Apenas em nossas memórias"
-Pra tudo me falta memória, mas essas não guardo na mente, então se fazem eternas e guardadas no coração.
Ela disse para si mesma, em um tom bem baixo e uma lágrima no rosto. Lembrou-se então que esqueceu, como sempre, as chaves. Voltou correndo. Para voltar tinha pressa, toda pressa que lhe faltava quando se tratava de partir, deu as costas para a rua e subiu de elevador, a respiração ofegante, e a porta se abriu, olhou mais uma vez naqueles olhos que já liam os seus.
- Esqueceu as chaves!
Ele disse dando um sorriso torto de quem estava feliz pelo esquecimento.
- Talvez eu não tenha vindo buscar algo que esqueci, mas algo que nunca vou esquecer.
Ela o beijou demoradamente, sentiu seu cheiro e fechou a porta. Ela ainda esqueceria a chave muitas vezes, a carteira com todos os seus documentos e até de calçar os sapatos, mas aquele momento era parte dela, ele existia não somente em suas memórias, estava em seu coração.

domingo, 30 de novembro de 2014

Minha face - Jessica Esteves

Sim, eu sorrio pra lua quando ela está sorrindo
Corto o cabelo pra não pentear
Sonho toda noite com sonhos que as vezes nem sei explicar
Sim, eu sonho todas as noites
Sim, eu me apaixono por um sorriso
E por olhos que sorriem
Mas eu pouco me apaixono
Sim, sou a favor do natural
Mas pinto o cabelo por vício
Sim, eu me vicio
Jogos, séries, novelas... prefiro manter distância
Ou talvez jogar um pouquinho por agora
Sim, eu tenho medo do futuro
Sou muito mais feliz quando penso no agora
Sim eu sou ansiosa
Como demais
Corro demais
Alguns me chamam de afobada
Sou de viagens
As viagens pelo mundo e as viagens ao mundo da lua
Tenho uma certa preferência pela mundo da lua
Vivo com medo de magoar alguém
E se magoada perdoo facilmente
Meus filmes favoritos são todos animações
Sou da paz
Meu espelho está sempre aberto
Estou constantemente tirando fotos
Constantemente amando a mim mesma
Constantemente agradecida pela vida
Constantemente admirando o céu
Azul, laranja ou preto estrelado
Constantemente sendo feliz
Prazer
Jessica Esteves


quinta-feira, 12 de junho de 2014

Amor de poeta








Amor de poeta é diferente
As vezes loucura 
Amor de poeta é criatura
Criado para caber nas linhas do seu coração
Porque se um dia acabar, pelo menos haverá uma história para se contar
Amor de poeta é estranho
Não é escolher alguém, é escolher um par romântico 
É amor apegado aos detalhes
Uma roupa que foi usada em dias importantes e não importantes 
Uma flor de mentira
Uma viagem imaginária
A data, a hora o segundo exato daquele acontecimento mais banal 
Amor de poeta não é bonito não é feio
É cheiro, é cor, é sensação


segunda-feira, 28 de abril de 2014

A personagem

 Era formada em direito e exercia muito bem seu trabalho, mas era por paixão escritora. Tivera um ou dois livros lançados, nada suficiente para que pudesse viver só disso. Dedicava-se, então, ao seu "ganha pão" e em seu tempo livre fazia o que tinha prazer em fazer. Os minutos que passava em frente ao computador era seu momento de paz na alma. Em casa já fazia tempo que as coisas não iam bem e seu apertado escritório era como um refúgio para ela, um casulo onde ela poderia dar asas aos pensamentos que lhe enchiam a cabeça durante o dia, fossem eles bons ou ruins, ali sua mente abria as portas e deixava livre a imaginação. Criara então seus personagens, deu-lhes vida, e amou-os, passou a viver com eles todo tempo que podia, dormia e acordava com eles, voava e nadava com eles.
A cada dia perdia um pouco de si mesma para dar vida à suas criações, e então surgiam nela diversas pessoas diferentes, altos, baixos, empresários e mendigos, tudo quanto se pode imaginar. Com o tempo, sua dedicação aos seus diversos personagens tornara-se obsessão, de tanto se entregava à eles foi nascendo dentro dela diferentes personalidades. De inicio não era claramente percebido, era apenas um novo tipo de perfume que era preferencia de uma personagem chamada Julia, ou então uma comida que antes não gostava mas que era o preferido da criatura Victor. Porém, boas histórias não são apenas bons perfumes ou comida, e ela começou a tomar atitudes que fizeram com que as pessoas de sua convivência percebesse que algo estava fora de controle. Começou com uma personagem de meia idade que tinha muitos amantes, a história não estava rendendo e ela resolveu incorporar a personagem, já estava há meses separando do marido mas não era oficial, então envolveu-se com um rapaz do trabalho, o que gerou a demissão dos dois. Daí parar frente, com mais tempo para imaginar, foi se tornando um vício ser sua própria criação. Vieram os que se envolviam com drogas, e ela se vestia deles, usava do mesmo que usavam para saber como sentiam e assim poder escrever. Estava mentalmente debilitada, isso era claro, mas seu marido a deixara e não lhe restaram amigos. Com o dinheiro que havia guardado ela realizou a vontade de cada personagem, entre viagens e vícios, ela foi se afundando aos poucos, e sem mais ninguém para lhe ajudar ela teve seu surto final. Criou o personagem que ao final da história se mataria, se jogaria do oitavo andar, coincidentemente o andar em que ela morava, e naquela tarde de outono ela colocou um ponto final, nas suas histórias e na sua vida.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Extinção

Choveu
Tem uns que, quando chove, muito sofre por tudo molhar
Estes são donos de olhar para o céu e reclamar
Choram até
Fazem careta
Choveu, choveu
Agora faz sol
Tem uns que, quando faz sol, sofre um tanto por muito queimar
Essa gente nem sai de casa
Fecha a janela
Fecha a cara
E no fim das contas quem é feliz?
Se tanto a chuva quanto o sol não tem fim
Tem gente que dança na chuva
Se banha em suas águas
E se banha no mar em dias de sol
Dessa gente o mundo é vazio
Vazio de gente que se enche de vida 

terça-feira, 11 de março de 2014

A mar






Por mim, passaria a vida a observar o mar e seu espetáculo de ondas dançantes. Se pudesse escolher, escolheria o mar para ser meu par, e com ele dançaria por toda sua infinitude. Diante de meus olhos sua transparência me fascina, me encanta. Se o mar fosse alguém, seria alguém para se amar. Ele é canção, é beleza, é vida. Me presenteia com a lua e as estrelas. Tudo de mais belo que há se une ali. Há quem diga que teme o mar, há quem diga que teme amar, por mim, passaria a vida amando o mar, amando à beira do mar, porque o mar, mesmo sem ser alguém, ele é para se amar. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sonhos bons






Ela respirou fundo e abriu os olhos. Havia um cheiro bom, uma vista bonita e um jeito de sonho. De dia o sol lhe queimava a pele enquanto um vento agradável lhe balançava os cabelos, a noite as estrelas conversavam entre si e a lua observadora sorria ao ouvir suas histórias. O frio era intenso, mas a sensação lhe agradava, sentia a mente livre, o corpo leve. Tudo combinava perfeitamente, era como se a natureza se encarregasse de tudo e ela apenas sentia, observava e vivia. Uma mistura perfeita de sensações, cheiros, luz neon.  Então de repente o sol se tornou incomodo e não havia mais vento, cada sensação se tornou memória e apenas, nada mais de vista nada mais de cheiro. Então ela deitou, fechou os olhos e se foi, foi buscar na memória algum sonho bom.